sábado, 4 de dezembro de 2010

O Fim.

Ler não é difícil mas compreender não está ao alcance de todos. Isto veio-se a comprovar com a leitura desta obra, uma vez que não era assim tão evidente o seu significado. Tal como eu idealizava a sua leitura permitiu-me conhecer melhor Manuel Alegre, pôr-me na sua pele enquanto exilado e transportar-me para um pouco das suas vivências .





JA

Os melhores.

No livro de Manuel Alegre “O Aviso” é um dos dois contos a que tenho preferência . Talvez porque nos dá a perceber aquilo que é inevitável, a morte. Onde neste conto dá sinais de que se vai realizar, através de sons, vozes e olhares.


O outro conto que mais gosto é “O Retrato”. Este conto retrata assim a parte da vida feliz de uma mulher, a tia Hermengarda, que fica guardada numa pintura a óleo com o nome de "Natacha". Ao morrer Hermengarda, o retrato desaparece e com ele desaparece também a felicidade.



JA

Seixo.

No conto “ A Pedra” no livro de Manuel Alegre, a história gira em torno de um homem que procura com todas as forças uma pedra. Procurou em toda a parte, no Egipto, em Marrocos, no fundo de rios, mas não encontrou a pedra que tanto procurava. Até que lhe contaram da pedra que Albuquerque mandou colocar na fortaleza de Malaca, onde estavam os nomes dos que se tinham destacado na conquista da cidade. Onde ordenou que fosse colocada ao contrario para que os nomes ficassem no anonimato para sempre. E nas costas da Pedra mandou gravar em latim “ A lapide que os fundadores reprovaram”.

O homem foi em busca da pedra de Albuquerque . Enquanto procurava, um velho indicou-lhe aonde estava a pedra. O homem ao alcançar a pedra reparou que apenas tinha uma palavra inscrita “lapidem”. Então compreendeu que cada homem é o seu rosto e o seu avesso quando se olhou ao espelho e viu o lado contrario para o qual olhava.

Talvez como neste conto o sentido da vida esteja sempre escondido noutro lado, e tenhamos que procura-lo incessantemente tal como o homem procurava a pedra.







“somos sempre quem já não somos”









JA

Sensaboria.

No terceiro conto “A Grande Subversão” tudo me leva a crer que Manuel Alegre quer evidenciar a monotonia das vidas na época do Salazarismo e como eram controladas e pormenorizadas.



( “ Havia o dia de esfregar a casa, o dia de lavar a roupa, o dia de arear os metais, o dia de tomar banho.”)


Com o suceder da história a personagem central torna-se revoltada e impõem-se a rotina de uma forma bruta e severa.
Mais uma vez, vejo nesta personagem Manuel Alegre. Que cansado do regime salazarista se revolta “contra tudo e contra todos”.














JA

Manuel Alegre, conta-me como foi.

Depois de numa manhã de sábado ter lido o “O Homem do País Azul”, dei conta que estava tudo errado com este livro. Então li-o novamente, e novamente e novamente, até perceber o seu significado. No total foram três vezes.

Um livro que na minha perspectiva está cheio de palavras “cobertas” onde Manuel Alegre o utiliza de certo modo como diário e não apenas para retratar histórias simples.

Pude verificar isso depois da leitura sucessiva do primeiro conto. A história gira em torno de um homem incógnito e até de certo modo fugitivo, pertencia a um grupo de terrorismo que estava relacionado com o rapto de um embaixador ocidental.
Este homem é visto várias vezes por um amigo português em locais distintos como Lisboa e Egipto e sempre com um nome ,aspecto e companhia diferentes . Mesmo aparecendo sempre com diferentes “personalidades” ao longo do decorrer da historia o homem, umas vezes Vladimir , outras Abdul ou Alburquerque afirma sempre, ser de um país azul, que no meu ver seria Portugal.

Esta personagem é criada no meu entender para mostrar como era um exilado, neste caso fortemente ligado ao golpe militar de 25 de Abril de 1974 exposto no conto.

Segundo sei, Manuel Alegre era um revolucionário. Em 1962 foi mobilizado para Angola onde é preso pela PIDE e condenado a 6 meses de reclusão em Luanda acusado de tentativa de revolta militar contra a guerra do ultramar. Em 1964 regressou a Portugal e a ameaça de nova detenção por suspeita de traição levou-o ao exílio no norte do país.

Tudo isto me leva a crer que o “homem do país azul” do primeiro conto é uma parte do homem que há em Manuel Alegre.





Trova do Vento que Passa

"Pergunto ao vento que passa
notícias do meu país
e o vento cala a desgraça
o vento nada me diz. (.....)"
Manuel Alegre









JA